Para Laura, com amor
Laura minha querida, venho encontrando conexões entre meus pensamentos-experiências-desconfortos com a sociedade em que vivemos lendo e escutando grandes mulheres. Sinto que estou expandindo minha mente e que esse caminho é sem volta.
O nome desse blog é a primeira sugestão que a autora Chimamanda Ngozi Adichie oferece no livro Para educar crianças feministas. Comprei esse livro logo que você nasceu.
Você sabe que a vovó Vera morreu quando eu tinha 9 anos, né? Pois aí vem uma coisa doida: a família achava que era preciso ter uma mulher pra dar conta da minha educação, que o vovô Zé, sendo homem, não seria capaz de segurar essa onda sozinho (reflexo de uma sociedade patriarcal, machista; onde o homem é o provedor, é quem trabalha fora e traz dinheiro pra casa. Já a mulher ocupa o papel de cuidar do lar, dos filhos, do alimento). Ah, e mesmo agora, em 2020, a sociedade ainda enxerga e age a partir dessa visão distorcida em relação ao gênero, do que cabe à mulher e do que cabe ao homem, preservando assim as relações de poder.
Bom, e assim, minha família achava que o melhor para minha educação seria eu ir morar com alguma tia ou avó. E o vovô Zé disse "não!" e eu segui morando com ele. Mas... mesmo o vovô Zé tendo um pensamento livre, enxergando pra frente, ainda assim ele é um homem que foi educado por uma família de descendentes italianos (onde o machismo impera e o conservadorismo habita a maneira como enxergam a vida). E aí me deu um clique: agora você está morando com o papai, que assim como o vovô Zé cresceu e foi educado por uma família bastante conservadora.
Laura, é importante que você seja uma pessoa feminista, que você leia muitas mulheres, entenda a força que temos, a nossa ancestralidade! Procure estabelecer uma rede afetiva com as mulheres, uma rede de apoio, de troca, de empatia. Uma das armadilhas desse modelo de sociedade em que vivemos é colocar as mulheres como rivais, sempre em competição. Além disso, olhe para dentro de você mesma sempre que possível! Passei muito tempo sem conseguir enxergar a mim mesma, não somos educadas para isso, mas é algo muito importante: você prestar atenção aos seus sinais. Isso contribuirá para que você cresça com mais consciência, acreditando na sua potência e para que seja crítica com tudo o que for desumano.
Transforme suas aspirações em ações práticas, em experiências que podem ser compartilhadas com outras pessoas. Lute pela justiça social!
"Minha mãe costumava dizer que em toda a sua vida, por meio de seu testemunho vivo, ela tentou dizer ás mulheres que elas também devem participar, para que, quando vem a repressão e com ela muito sofrimento, não sejam somente os homens a sofrer. As mulheres devem se unir à luta do seu jeito particular. As palavras da minha mãe lhes diziam que toda evolução, toda mudança, em que as mulheres não participassem, não seria mudança nenhuma e não haveria vitória. Ela tinha tanta certeza disso quanto teria se fosse uma mulher com todo tipo de teoria e muita prática." - Rigoberta Menchú (extraído da página 123 do livro Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade da bell hooks).
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